(...continuação)
Ou seja, deve existir entre hipnotizador (operador) e sujeito, algo a que se chama rapport*. Satisfeitas estas três condições, poderemos afirmar que todas as pessoas são hipnotizáveis, exceptuando-se aquelas impossibilitadas de se concentrarem . Isso pode acontecer devido a problemas cerebrais físicos, ou de outra origem, como baixo coeficiente de inteligência ou devido a drogas ou álcool.
A hipnose, em si mesma, considerada na sua vertente terapêutica, é apenas uma técnica. Contudo, só por si, o estado hipnótico promove um relaxamento intenso do corpo e da mente, mais ainda se o processo for dirigido com esse objectivo específico. Só que a hipnose tem outras utilizações para além do relaxamento.
Consideremos, por exemplo, o que diz Luiz Carlos Crozera, Diirector do Instituto Brasileiro de Hipnologia e da Sociedade Iberoamericana de Hipnose Condicionativa, sedeadas em Jaú (SP). Segundo ele, "estudos indicam que 90% das doenças surgem primeiro na mente. Se a mente cria, a mente cura. E a única forma de se chegar até aos registos mentais é por meio da hipnose”.
A este propósito, gostaria de fazer referência a um fisiologista austríaco, de seu nome Josef Breuer, falecido em 1925. Breuer descobriu em 1880, que havia conseguido aliviar os sintomas de depressão e hipocondria (histeria) de uma paciente (que recebeu o nome de código Ana O), depois de induzi-la a recordar experiências traumatizantes sofridas na infância, tendo chamado ao processo catarse. Para isso utilizou a hipnose. Concluiu, mais tarde, que os sintomas neuróticos resultam de processos inconscientes e desaparecem quando esses processos se tornam conscientes, tendo sido o primeiro, antes de Freud, a determinar o papel da mente inconsciente na manutenção de determinados problemas.
Embora a técnica que utilizasse posteriormente fosse a associação de ideias que marcou o início da medicina psiquiátrica (Breuer foi também o criador da talk therapy), ficamos a saber que a hipnose nos permite tanto aceder rapidamente às memórias do inconsciente, como obter bons resultados a partir das informações recolhidas. Este aspecto foi desenvolvido modernamente de uma maneira muito especial por Milton Erickson, médico psiquiatra norte americano falecido em 1980, que levou a hipnose a ser actualmente considerada um método de terapia breve.
Através da hipnose, ao longo dos tempos, tem sido possível tratar, com taxas de sucesso elevado, casos de:
- Fobias e medos
- Ansiedade e depressão
- Baixa autoestima
- Distúrbios alimentares
- Distúrbios de sono
- Distúrbios sexuais
- Doenças gastro-intestinais
- Tabagismo e outros hábitos
Mais coisas poderiam ser acrescentadas, mas estas deverão dar uma ideia clara das potencialidades da hipnose na alteração e consolidação de estados emocionais mais sóbrios e equilibrados. Quanto aos problemas físicos, está demonstrada a possibilidade do seu controlo, especialmente no âmbito da dor, sendo este um facto demonstrado por inúmeras cirurgias realizadas nos mais variados países do mundo sem anestesia química (o que já aconteceu aqui, em Portugal).
Veja e oiça, carregando na imagem abaixo, um video-áudio que o fará "mergulhar" num agradável e profundo transe hipnótico e, ao mesmo tempo curar a sua criança-interior.
* Rapport é umTermo encontrado no livro de Jay Haley, Uncommon Therapy:The Psychiatric Techniques of Milton H. Erickson, M.D., 1986, a propósito das intervenções psicoteurapêuticas realizadas por Milton Erickson, que tendo desenvolvido a capacidade de perceber o ponto de vista dos seus pacientes, conseguia, a partir dessa perspectiva, ajudá-los a ultrapassar diversos problemas. Contudo, não foi Erickson o criador do termo rapport, que é um estado de boas relações entre operador e sujeito, já utilizado por Franz Anton Mesmer e Ambroise-Auguste Liébeault, médico francês do século XIX e fundador da célebre Escola de Nancy.